sábado, 19 de outubro de 2013

VISÃO FILOSÓFICA E BÍBLICA SOBRE O TRABALHO E A PROSPERIDADE






Uma visão filosófica do TRABALHO


Para início de conversa, deixo uma citação de Mounier: 

"Todo trabalho trabalha para fazer um homem ao mesmo tempo que uma coisa".


Abaixo citaremos alguns trechos do livro FILOSOFANDO: Introdução à Filosofia (Maria Lucia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins) referente ao TRABALHO:

"... pelo trabalho, o homem se autoproduz: desenvolve habilidades e imaginação; aprende a conhecer as forças da natureza e a desafiá-las; conhece as próprias forças e limitações; relaciona-se com os companheiros e vive os afetos de toda relação; impõe-se uma disciplina. O homem não permanece o mesmo, pois o trabalho altera a visão que ele tem do mundo e de si mesmo." (Capítulo 2, p. 9).

"A concepção de trabalho sempre esteve predominantemente ligada a uma visão negativa. Na Bíblia, Adão e Eva vivem felizes até que o pecado provoca sua expulsão do Paraíso e a condenação ao trabalho com o "suor do seu rosto". A Eva coube também o "trabalho" do parto. A etimologia da palavra trabalho vem do vocábulo latino tripaliare, do substantivo tripalium, aparelho de tortura formado por três paus, ao qual eram atados os condenados, e que também servia para manter presos os animais difíceis de ferrar. Daí a associação do trabalho com tortura, sofrimento, pena, labuta. Na Antiguidade grega, todo trabalho manual é desvalorizado por ser feito por escravos, enquanto a atividade teórica, considerada a mais digna do homem, representa a essência fundamental de todo ser racional. Para Platão, por exemplo, a finalidade dos homens livres é justamente a "contemplação das ideias". (...) Também na Roma escravagista o trabalho era desvalorizado. É significativo o fato de a palavra negocium indicar a negação do ócio: ao enfatizar o trabalho como "ausência de lazer", distingue-se o ócio como prerrogativa dos homens livres. Na Idade Média, Santo Tomás de Aquino procura reabilitar o trabalho manual, dizendo que todos os trabalhos se equivalem, mas, na verdade, a própria construção teórica de seu pensamento, calcada na visão grega, tende a valorizar a atividade contemplativa. Muitos textos medievais consideram a ars mechanica (arte mecânica) uma ars inferior. Tanto na Antiguidade como na Idade Média, essa atitude resulta na impossibilidade de a ciência se desligar da filosofia. Na Idade Moderna, a situação começa a se alterar: o crescente interesse pelas artes mecânicas e pelo trabalho em geral justifica-se pela ascensão dos burgueses, vindos de segmentos dos antigos servos que compravam sua liberdade e dedicavam-se ao comércio, e que portanto tinham outra concepção a respeito do trabalho.” (Capítulo 2, pp. 9, 10).

Sobre o consumo e o consumismo

A obra supracitada traz-nos a ideia do que vem a ser o consumo

"O ato do consumo é um ato humano por excelência, no qual o homem atende a suas necessidades orgânicas (de subsistência), culturais (educação e aperfeiçoamento) e estéticas. Quando nos referimos a necessidades, não se trata apenas daquelas essenciais à sobrevivência, mas também das que facilitam o crescimento humano em suas múltiplas e imprevisíveis direções e dão condições para a transcendência. Nesse sentido, as necessidades de consumo variam conforme a cultura e também dependem de cada indivíduo. No ato de consumo participamos como pessoas inteiras, movidas pela sensibilidade, imaginação, inteligência e liberdade.” (Capítulo 2, p. 15).

Sobre o consumismo:

“O problema da sociedade de consumo é que as necessidades são artificialmente estimuladas, sobretudo pelos meios de comunicação de massa, levando os indivíduos a consumirem de maneira alienada.” (Capítulo 2, p. 16).

“... na sociedade pós-industrial a ampliação do setor de serviços desloca a ênfase da produção para o consumo de serviços. Multiplicam-se as ofertas de possibilidade de consumo. A única coisa a que não se tem escolha é não consumir! Os centros de compras se transformam em "catedrais do consumo", verdadeiros templos cujo apelo ao novo torna tudo descartável e rapidamente obsoleto. Vendem-se coisas, serviços, ideias. Basta ver como em tempos de eleição é "vendida" a imagem de certos políticos.” (Capítulo 2, p. 16).

“A estimulação artificial das necessidades provoca aberrações do consumo: montamos uma sala completa de som, sem gostar de música; compramos biblioteca "a metro" deixando volumes "virgens" nas estantes; adquirimos quadros famosos, sem saber apreciá-los (ou para mantê-los no cofre). A obsolescência dos objetos, rapidamente postos “fora de moda", exerce uma tirania invisível, obrigando as pessoas a comprarem a televisão nova, o refrigerador ou o carro porque o design se tornou antiquado ou porque uma nova engenhoca se mostrou "indispensável".” (Capítulo 2, p. 16). 

“Como o consumo alienado não é um meio, mas um fim em si, torna-se um poço sem fundo, desejo nunca satisfeito, um sempre querer mais. A ânsia do consumo perde toda relação com as necessidades reais do homem, o que faz com que as pessoas gastem sempre mais do que têm. O próprio comércio facilita tudo isso com as prestações, cartões de crédito, liquidações e ofertas de ocasião "dia das mães" etc. Mas há um contraponto importante no processo de estimulação artificial do consumo supérfluo - notado não só na propaganda, mas na televisão, nas novelas -, que é a existência de grande parcela da população com baixo poder aquisitivo, reduzida apenas ao desejo de consumir. O que faz com que essa massa desprotegida não se revolte? Há mecanismos na própria sociedade que impedem a tomada de consciência: as pessoas têm a ilusão de que vivem numa sociedade de mobilidade social e que, pelo empenho no trabalho, pelo estudo, há possibilidade de mudança, ou seja, “um dia eu chego lá”. E se não chegam, “é porque não tiveram sorte ou competência”. Por outro lado, uma série de escapismos na literatura e nas telenovelas faz com que as pessoas realizem suas fantasias de forma imaginária, isto sem falar na esperança semanal da Loto, Sena e demais loterias. Além disso, há sempre o recurso ao ersatz, ou seja, a imitação barata da roupa, da joia, do bule da rica senhora. O torvelinho produção-consumo em que está mergulhado o homem contemporâneo impede-o de ver com clareza a própria exploração e a perda da liberdade, de tal forma se acha reduzido na alienação...” (Capítulo 2, pp. 16, 17).


Uma visão bíblica da PROSPERIDADE


Sobre a prosperidade no Antigo Testamento

“Guarda-te que não te esqueças do SENHOR teu Deus, deixando de guardar os seus mandamentos, e os seus juízos, e os seus estatutos que hoje te ordeno; Para não suceder que, havendo tu comido e estando farto, e havendo edificado boas casas, e habitando-as, E se tiverem aumentado os teus gados e os teus rebanhos, e se acrescentar a prata e o ouro, e se multiplicar tudo quanto tens, Se eleve o teu coração e te esqueças do SENHOR teu Deus, que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão; Que te guiou por aquele grande e terrível deserto de serpentes ardentes, e de escorpiões, e de terra seca, em que não havia água; e tirou água para ti da rocha pederneira; Que no deserto te sustentou com maná, que teus pais não conheceram; para te humilhar, e para te provar, para no fim te fazer bem; E digas no teu coração: A minha força, e a fortaleza da minha mão, me adquiriu este poder. Antes te lembrarás do SENHOR teu Deus, que ele é o que te dá força para adquirires riqueza; para confirmar a sua aliança, que jurou a teus pais, como se vê neste dia.“ (Deuteronômio 8:11-18)

GUARDAR, VIGIAR...

“Guarda-te que não te esqueças do SENHOR teu Deus...” (v.11).
Diante dos variados bens, móveis e imóveis, dinheiro que o cristão tem ou poderá vir a possuir/adquirir, será preciso que o mesmo arranje meios de se defender, adquirindo proteção, se preservando, tomando conta do coração, colocando-o no lugar onde deve estar (em Deus)! Observará de forma investigativa seu estado, situação, verificará a sua vida com a finalidade de dirigir, ou melhor, deixar-se ser dirigido por Deus. Fará a revista do seu cotidiano, procurando cada parte de um todo, tendo em mente que temos a incumbência de buscar a direção para o bom encaminhamento da nossa vida pessoal e, consequentemente, nas relações interpessoais.

“Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.” (Lucas 10:27)

CUIDADO COM A ELEVAÇÃO

 “Se eleve o teu coração e te esqueças do SENHOR teu Deus...” (v.14).
Não devemos, diante do que o Senhor Deus nos concede, elevar nosso coração, divinizando-nos, edificando um altar de nós mesmos! Em vez de levantarmos muros para fortalecer nossas jactâncias e vanglórias, levantemos um para esconder/proteger a nossas almas, firmados na Rocha: “... e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.” (Colossenses 3:3).

DEUS HUMILHA?

“para te humilhar, e para te provar, para no fim te fazer bem;” (v.16).
Com certeza Deus humilha, i.e., subjuga (seu povo) com sua mão forte (e com amor) não com o intuito de afundar ou abater, mas eliminar do meio do seu povo o orgulho e a autoexaltação. Ele humilha para exaltar... “O SENHOR é o que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faz tornar a subir dela. O SENHOR empobrece e enriquece; abaixa e também exalta. Levanta o pobre do pó, e desde o monturo exalta o necessitado, para fazê-lo assentar entre os príncipes, para fazê-lo herdar o trono de glória;" (1 Samuel 2:6-8). Deus também prova... Faz passar por um processo de aprimoramento para que o resultado desse refinamento seja a pureza, um conteúdo sem mistura. Enfim, Ele incorpora no refinado as coisas/bênçãos de Deus!

LEMBRANÇAS

O cristão, depois de adquirir as muitas bênçãos divinas através do seu trabalho (indo além da Graça Comum), recordará (sempre) que a sua FORÇA [capacidade, influência, riquezas, propriedades] emana de Deus. Essa faculdade e habilidade que o cristão tem “vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.” Tiago 1:17. Sua produção, suas proezas provém do Dono da Força. Tendo isso em mente, obterá o efeito desejado, bênçãos copiosas, fertilidade, abundância substanciosa.

Sobre a prosperidade no Novo Testamento

 De antemão, devemos ter em mente 3 considerações acerca da cosmovisão bíblica neotestamentária concernente a prosperidade:

1. A prosperidade no N.T. existe, é real, mas, não é a base de todas as coisas, também, não exprime o fato de que o ser humano exista. Sua existência vem do Dono do Universo, daquele que fez todas as coisas, portanto: “Deus... fez o mundo e tudo que nele há." (Atos 17:24), e:  "... pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas; E de um só sangue fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra,” (Atos 17:25-26). Devemos então recorrer àquele que tem a prosperidade em suas mãos, e não à prosperidade que emana delas. Vivamos na verdadeira prosperidade, a não ser que queiramos viver na fantasia.

2. A prosperidade diferencia e não nos diferencia dos nossos semelhantes. Não nos diferencia porque ela não deve ser motivo para adquirirmos destaques, cargos, funções primeiros lugares, exclusividade, pois, tudo isso, seria obtido pelo ter e não pelo ser. Diferencia-nos porque a verdadeira prosperidade traria, anexa em si, ideias, ideais, conceitos, realizações, influências e referências. Sendo assim, essa particularidade existente na vida do próspero se expandiria para a vida dos demais (coletivo), influenciando-os, acompanhando-os e resgatando-os... Em resumo, esse potencial e diferencial que a prosperidade traz para a vida do ser humano teria como uma das metas/objetivos principais solidariedade e provimento aos necessitados!

3. A afirmação: “Eu sou próspero” declara ou nega a nossa fé? Essa prosperidade é tudo o que somos? Existimos por causa dela? Somos identificados por nossa vida cristã ou pelo que temos?

Que tipo de rico/próspero somos?

A. Como José: “E o SENHOR estava com José, e foi homem próspero; e estava na casa de seu senhor egípcio. Vendo, pois, o seu senhor que o SENHOR estava com ele, e tudo o que fazia o SENHOR prosperava em sua mão, José achou graça em seus olhos, e servia-o; e ele o pôs sobre a sua casa, e entregou na sua mão tudo o que tinha. E aconteceu que, desde que o pusera sobre a sua casa e sobre tudo o que tinha, o SENHOR abençoou a casa do egípcio por amor de José; e a bênção do SENHOR foi sobre tudo o que tinha, na casa e no campo.” (Gênesis 39:2-5)
B. Como o Rico Insensato: “E propôs-lhe uma parábola, dizendo: A herdade de um homem rico tinha produzido com abundância; E ele arrazoava consigo mesmo, dizendo: Que farei? Não tenho onde recolher os meus frutos. E disse: Farei isto: Derrubarei os meus celeiros, e edificarei outros maiores, e ali recolherei todas as minhas novidades e os meus bens; E direi a minha alma: Alma tem em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e folga. Mas Deus lhe disse: Louco! Esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado para quem será?” (Lucas 12:16-20).

Vamos escolher? Vamos para trás ou para frente? Seguiremos as teses bíblicas sobre a prosperidade ou iremos após os profetas e apóstolos da prosperidade? Façamos nossa decisão!

Prosperidade e humildade
O próspero é humilde porque sabe que saiu do pó da terra: és pó e em pó te tornarás. (Gênesis 3:19). Somos “filhos da terra” (Lt. húmus). O próspero não se atira, nem se arremessa sobre os demais com o intuito de ser superior! Relaciona-se bem, traz em si moderação, não “vive se aparecendo”. Tem sinceridade, afeto, franqueza. Respeite e será respeitado (aqueles que não o respeitam, em breve, certamente descerão ao Governador do Egito [José] para comprar mantimentos em sua mão na época em que mais precisarão, entende?). O próspero não é extravagante, não é adepto de excessos.


Por Fernando José.



Referências:
*ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. MARTINS, Maria Helena Pires. FILOSOFANDO, INTRODUÇÃO À FILOSOFIA - 2ª edição revista e atualizada (ED. MODERNA, 1993).
*Vine, W.E., Merril F. Unger e William White Jr. Dicionário Vine. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2006.
*Lições Bíblicas – Lição 2: A prosperidade no Antigo Testamento, 1º trimestre/2012 (CPAD)
*Lições Bíblicas – Lição 4: A prosperidade em o Novo Testamento, 1º trimestre/2012 (CPAD)
*O Inconformista, Disponível em: http://oinconformista10.blogspot.com.br/search/label/Prosperidade - Acessado em 17/10/2016.





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